terça-feira, 8 de janeiro de 2008

BICHO DOS OI DE FOGO


Os primeiros automóveis surgidos no Brasil circulavam certamente pelas grandes cidades, só indo depois de algum tempo se espalharem pelas zonas rurais, quando nessas foram surgindo estradas mais propicias à circulação desses veículos. Assim sendo, quanto maior fosse o isolamento de um morador do campo e quanto mais distante ficasse das cidades grandes, maior seria a demora em ter contato com essas máquinas que muitas vezes foram confundidas com monstros ou Demônios. A história que vem a seguir serve bem para ilustrar essa situação e demonstrar a cara de espanto de um homem simples diante da novidade que era para si o contato com um automóvel.
Certa noite de lua um caçador munido de sua espingardada velha, e seu cachorro magricela, mas eficiente, saem em mais uma das investidas aventurosas do sertão, ou seja, uma caçada de peba, que na verdade é uma caçada de tudo, pois, tudo que passar pela mira da espingarda ou pelo faro do cachorro, e que possa servir de um assado, corre grande perigo, ou de levar uma saraivada de chumbos disparados pela socadeira ou de ser agarrado pelas dentadas do cão.
Nesta noite o mar parecia não estar para peixe, ou melhor o mato não estava para caça. Tendo já o caçador percorrido longas distancia sem sucesso algum, se encontrava já cansado e desorientado pelos assobios da caipora que atordoa aos caçadores que não lhe dão fumo em troca de boas caçadas.
Perdidos no meio da mata, caçador e cão rodam horas e já quase madrugada conseguem atinar para um rumo que os levaria a uma estrada, bem longe de sua casa é verdade, mas na qual poderiam finalmente se encontrar, pois lembra o caçador que por aquelas bandas morava um compadre seu.
Mal sai do mato alcançando a estrada ainda meio aturdido, um automóvel com os faróis acesos lhe sega as vistas fazendo-o cair no chão. O automóvel que passava pela estrada segue seu caminho sem parar e o pobre caçador acreditando se tratar de um monstro enviado pela caipora e que o mesmo fugira o vê-lo apossado da velha espingarda e acompanhado do seu cão, se enche de coragem e passa a seguir o carro correndo atrás deste engolindo fumaça e comendo poeira.
Tamanha foi a carreira de nosso herói e de seu cão que ainda conseguem acompanhar ao carro por bom espaço de tempo, porém sem sucesso, pois a cada disparo da velha espingarda a mesma batia catolé e nunca o alvo era atingido. Tanto correram que cansados já não conseguiam manter o ritmo dos passos inicias, mas a distancia percorrida já os fizera chegar bem próximo da casa do compadre, para onde resolve se encaminhar para descansar e contar o acontecido.
Chegando na casa do compadre, encontra este já acordado, iniciando os trabalhos do dia, que no sertão se iniciam ainda com escuro, o mesmo que vira o automóvel passar e já estava acostumado a vê-lo, uma vez que naquela estrada já começavam a circular veículos rumo as feiras de cidades da região vem atendê-lo. É quando o caçador sem deixar espaço para qualquer manifestação do compadre dispara o brado assustado:
-Compadre você viu aquele bicho dos oi de fogo.
O compadre rindo responde:
Mas que bicho dos oi de fogo nada compadre, aquilo era um automóvel.
O caçador sem fazer a menor idéia do que se tratava um automóvel e sem entender aquela palavra que para ele era nova, bastante zangado com os risos do seu compadre devolve injuriado:
- oitos e noves que nada compadre. Aquilo era um bicho dos oi de fogo.

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