quinta-feira, 3 de abril de 2008

O PRIMEIRO DANONE DA MINHA VIDA


Esta é uma história engraçadíssima, porém é também bastante penosa, cabe ao leitor escolher o sentimento com que melhor se satisfaz no entendimento da história.
Não se trata de uma história conhecida, pois aconteceu a pouco tempo, mais o fato de ser muito engraçada faz com que mereça ser contada. O fato ocorreu em minha própria casa entre meu irmão mais novo, Elder, e minha mãe Irací.
Aconteceu que Elder (meu irmão) tendo visto a propaganda de iogurtes pela televisão, é logo seduzido pelas imagens de crianças felicíssimas saboreando essas guloseimas que genericamente habituamo-nos a chamar pelo nome de Danone, sem que necessariamente o sejam.
Convencido de que comeria Danone, Elder se dana a aperrear mamãe para que na sua próxima ida a feira (feira de cascavel -ce), traga o seu objeto de desejo , confiante no sucesso de sua argumentação ele que já a fizera trazer um picolé enrolado em papel, da feira até em casa em pleno meio dia (distancia da feira até nossa residência era de aproximadamente 33 km), não cansa de repetir o pedido, atitude que só cessa com a promessa de que seria atendido.
Eis que chega o grande dia e Elder não agüenta mais de ansiedade, até ouvir o som do carro que traz as pessoas da feira até a zona rural, onde morávamos, com suas compras. Notando a aproximação do veículo em que nossa mãe chegaria, Elder desaba a correr para a porteira, onde a encontraria, mal nossa mãe desse do carro, Elder já estar agarrado na beirada de sua saia perguntando.
__ Cadê? A mãe trouxe? A mãe trouxe? (o Danone é claro).
__ Trouxe menino, mas te acalma deixa chegar em casa.
__ Não mãe, me dar logo.
__Deixe chegar em casa que eu lhe dou.
Elder se dar por contente em esperar chegar até em casa, mais tempo já houvera esperado para obter o Danone e este agora já estava tão próximo, então tudo bem, esperaria mais alguns instantes.
Chegando em casa Elder recomeça sua ladainha pelo Danone, aquele que seria o primeiro Danone da sua vida, e tome zuada no ouvido de mamãe.
__ pronto mãe, tamo em casa, me dar o Danone.
__ Tem quêto menino, eu ainda vou abri o bicho
__ Mãe deixa que eu abro.
Alem de comer, queria também o prazer de abrir. Sem querer teimar mamãe meio que pra se ver livre de tanto aperreio entrega o Danone ao Elder que vai saindo e de tanta ansiedade puxa o lacre que veda o recipiente com tanta força que derrama uma parte do Danone na camisa, notando não ter sido percebido resolve correr para dentro das roças no aceiro de casa, onde pretendia comer o que sobrara sem que ninguém lhe chamasse a atenção por estragar parte do Danone. Nas pressas sai correndo pra dentro das roças, mas sem querer tropeça em um trnoco de pé de mandioca e cai derramando o que ainda restava de Danone. Desapontado levanta limpando a a cara suja de areia, apanha o recipiente do Danone e com as mãos sujas da queda na areia, mete o dedo limpando o fundo do Danone e lambi.
Morrendo de tristeza volta para casa, não pediria outro, pois não teria coragem de contar o ocorrido. Mamãe então pergunta.
__ Cadê menino? Já comeu? tão rápido assim?
__ Já mamãe, tava tão bom.
E assim foi o primeiro Danone da vida de Elder.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

OITO CANECOS D'ÀGUA

Esta é uma História real, do tempo em que se andava a pé, e por tê-la escutado há muito tempo, o nome dos seus personagens não será mencionado, pois não os recordo. Ocorreu que dois amigos viajando há bastante tempo, estando os dois com muita sede, resolvem parar em uma casa para pedir um pouco D’água. Então um dos rapazes tem uma idéia e fala para o amigo:
__ Ei vamos tomar água na casa do fulano – referindo-se a um senhor que morava logo à frente na estrada – como ele tem oito filhas a gente aproveita para beber água e ver as filhas dele.
O companheiro de viajem aceita na mesma hora a proposta e os dois seguem rumo a casa onde pretendiam tomar água, ou melhor, ver as filhas do fulano.
No momento em que o rapaz faz a proposta ao amigo, o pai das moças se encontrava do outro lado da cerca, cuidando de sua roça e sem ser percebido, escuta todo o plano para ver suas filhas. O lavrador abandona o serviço e dirigi-se a sua casa apressando o passo para chegar primeiro do que os rapazes e lhes dar uma lição, para nunca mais irem com enxerimento com suas filhas.
Ao chegar em casa, o agricultor conta o ocorrido à sua esposa e às filhas e chama todas as oito moças para a cozinha, e ele próprio vai para a sala esperar os rapazes que a essa altura já deviam estar se aproximando.
Não tarda o dono da casa a esperar e os dois amigos apontam em sua porta cumprimentando-o.
__Bom dia senhor, será que não podia nos arranjar um pouco d’água pra gente matar a sede. Fala o autor da idéia de ver as moças e também o mais gaiato dos dois.
O dono da casa aparece respondendo ao bom dia vestido só de calças deixando bem à mostra o cabo da peixeira doze polegadas, e responde.
__ Pois não senhores, façam o favor de entrar que eu já arranjo a Água de vocês.
Os dois rapazes entram e o dono da casa pondo inicio à execução de seu plano chama a primeira filha ordenando-a que traga um caneco D’água para o rapaz que espera na sala. Ao chegar a moça, o pai manda que esta entregue a água ao rapaz mais gaiato da história, Este toma o caneco de água e dono da casa pergunta.
__ Quer mais um pouquinho de água meu rapaz.
Ao que este responde.
__ Aceito sim senhor.
Vem então a nova ordem do pai das moças pra a segunda filha.
__Traga mais um caneco D’água que o rapaz ainda tem sede, e fala o nome da filha que prontamente atende ao pedido do pai.
O rapaz toma o segundo caneco de água e a pergunta se repete.
__ Quer mais um pouquinho.
A resposta dessa vês é negativa.
__Não, obrigado, já me dou por satisfeito.
Ao que responde o dono da casa já um pouco irritado:
__Não senhor, o senhor não disse que vinha beber água aqui para ver as minhas filhas, pois o senhor pode ficar sabendo que vai ver todas as oito.
Falando isso já vai puxando a peixeira da cintura, e apontando bem na cara do sujeito fala.
__ Traz aí mais um caneco de água, agora eu mato a sede dele.
E de caneco em caneco de água o rapaz vai enchendo o buxo já em tempo de espocar começa a se maldizer.
__ Meu senhor eu já não agüento mais tanta água, tenha pena de min pelo amor de Deus.
__ Nada disso, você não queria ver as moças, pois vai ver elas todas agora, pode ir trazendo mais água.
E assim foi de caneco em caneco até que todas as oito filhas cada uma tivesse trazido um caneco de água para o rapaz.
Terminado as oito filhas o pai das meninas se vira para o outro rapaz que acompanhava o que bebera e pergunta:
__ Ta com sede também, quer um pouquinho de água?
Este responde:
__ Não senhor, pode deixar, To com sede não, já vamos embora.
E os dois saem um com a barriga cheia D’água e o outro morrendo de sede.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

LENDO LENDAS

Quem quando criança já não se borrou de medo ao escutar uma história fantástica ser contada por um Avô-Avó, Pai-Mãe ou um vizinho mais velho? Quem já não se desmanchou em riso com uma história engraçada ou se deleitou com uma aventura fantástica. Todas essas histórias chegaram e chegam até a nossa idade adulta e também velhice, e sem nos darmos conta estaremos dando a nossa contribuição para a perpetuação dessas Historias maravilhosas ao contá-las aos nossos filhos e netos que por sua vez também o farão, dando continuidade a um ciclo interminável que só será extinto, com Certeza, junto com a própria humanidade, caso isto venha a ocorrer. Este blog tem por objetivo, reunir e tornar publico, lendas, histórias de trancoso, histórias de pescadores, caçadores e anedotas, ou seja, de um modo geral as histórias fantásticas, malassombrosas, aventurosas, engraçadas, e mentirosas que permeiam o imaginário do povo cearense em especial o povo beberibense, município cearense que guarda a peculiaridade de possuir de uma vez só os ambientes de Serra, Sertão e Mar. Isso proporciona uma enorme diversidade de histórias, dada a diversidade de ambientes e sociabilidades de homens com homens e também com a natureza. Como todo e qualquer povo, o beberibense, também traz em sua memória, um mundo mágico de Histórias mal assombradas, lendas de Cidades encantadas, serpentes que choram como crianças, homens que fizeram pacto com do diabo entre outras, além de histórias de pescadores, caçadores, vaqueiros, agricultores, homens simples, que narram suas aventuras por mar e por terra, ou fazem de histórias outras, as suas aventuras, sempre dando um toque especial à narrativa, fazendo-a tornar-se a cada nova repetição ainda mais interessante. A esse mundo acrescentam-se anedotas e historias de Trancoso, ou poderíamos chamar ainda de histórias da carochinha, historias pra boi dormir ou lorotas etc. Muitas poderiam ser as definições para essas histórias, que para mim são simplesmente histórias agradabilíssimas que demonstram a capacidade inventiva do povo simples, que na lida com o lúdico e com o sobrenatural inventa maravilhas, às quais muitas delas não terão jamais sua origem decifrada e que são transmitidas oralmente de gerações em gerações sem perder a sua graça, pelo contrario estarão sempre sendo renovadas. Outras sendo criadas e fazendo sempre a diversão das populações em suas conversas quotidianas e nos momentos de folga. As historias postadas neste blog fazem parte do mundo mágico vivido por mim durante a infância e juventude, porque não dizer ainda hoje. Como menino do interior, na ausência de um televisor, tinha nas conversas de fim de noite, um momento onde todas essas Histórias vinham à tona, sendo contadas pelos mais velhos, hora pra assombrar hora pra divertir. Embora tenha eu a pretensão de privilegiar as historias pertencentes ao mundo do imaginário beberibense. Outras histórias também poderão ser postadas, desde que se enquadrem no perfil deste blog. Contribuições também serão aceitas e publicadas desde que endereçadas com a identificação de quem as envia como também a localização espacial de onde foi coletada (município e estado de origem se possível). As contribuições deveram ser enviadas via e-mail para o endereço eletrônico: silvashelton@gmail.Com.

EU MATO MAS É DE AMOR

Valdir Bastião era daqueles homens que afogavam as magoas da vida e descarregavam o peso do trabalho em algumas doses de cana. Homem muito trabalhador chegava a passar de mais de ano sem sujar a boca com cachaça, no entanto quando caia na malvada, não tinha mais paradeiro, chegava a passar um mês inteiro embriagado.
Figura caricata, Valdir quando bebia, dava uma de poeta, cantando de improviso, e muitas foram as canções saídas de sua boca que só foram ouvidas uma única vez, pois quando ficava bom não lembrava mais de nenhuma, ou se lembrava não tinha coragem de cantar estando sóbrio. Sempre muito esperto, conseguia se sair das situações mais vexatórias sempre de maneira engraçada e vitoriosa. Com ele não tinha embaraço.
Estando Valdir na bebedeira há vários dias, chega em casa e briga com sua mulher mundinha, esta, com medo de ser de ser agredida, abandona a casa do marido e se refugia na casa mais próxima onde estaria protegida, exatamente a casa de seu sogro, o pai de Valdir.
Valdir ao saber que sua esposa se encontrava na casa de seu pai vai ao seu encontro, lá chegando é impedido de entrar na casa pelo velho. Aborrecido, começa a esbravejar do lado de fora da casa. Voltar para sua casa e lá agarra um facão para ameaçar mundinha, retornando começa a soltar suas ameaças à esposa.
Depois de muito insultar com os mais horrorosos palavrões, Valdir passa a ameaçar de morte a esposa falando:
-saia de dentro de casa sua miserável que eu vou lhe matar.
Cada vez que repetia a ameaça, amostrava o facão para amedrontar ainda mais à esposa. Depois de muito escutar as ameaças, o pai de Valdir já de saco cheio com o barulho que lhe tirava a paciência, resolve testar a coragem do filho e dar um fim à pendenga, arma-se com uma espingarda velha, abri a porta, e sai para o terreiro com a arma apontada bem na cara de Valdir que segurava o facão na mão e pergunta:
-Valdir, tu vai matar quem aqui mesmo hein?
Valdir calado, já mudando de cor, olhando bem dentro do cano da espingarda, não consegue sequer abrir a boca, e seu pai pergunta novamente:
- Valdir tu vai matar a mundinha è?
É quando este nervosamente responde para se sair, já soltando o facão no chão:
- Eu mato papai, mais é de Amooooor.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

TRAZ O MEU PACOTE DE FUMO

Besouro é o personagem principal dessa história, que se trata de um acontecimento real presenciado por várias pessoas da cidade de Beberibe. Por se tratar de uma situação engraçada, a história foi se espalhando pela cidade até se tornar bastante conhecida, eu a escutei a uns dez anos, de lá pra cá certamente muitas foram as vezes que essa história foi repetida. Quanto ao besouro, quem quiser encontrá-lo, basta procurá-lo no centro de Beberibe ou da praça matriz, e irá encontrá-lo certamente com seus inseparáveis companheiros: um rádio de pilhas e uma garrafinha de cachaça.
O caso que se sucedeu é que certa tarde estava Besouro sentado na calçada de uma rua que liga o centro de Beberibe à praça matriz da cidade, bem enfrente a uma oficina. No local onde sentara Besouro, sempre fazia uma sombra na parte da tarde, razão pela qual, ele o escolhera para sentar e tomar umas cachaças enquanto escutava a musica de sua preferência no seu rádio de pilhas.
Estando o mecânico da oficina em frente sem serviço naquela tarde, vai sentar-se à sombra ao lado de Besouro, para aproveitar-lhe a companhia. Nessa situação ficam os dois a passar o tempo. Conversa vai, conversa vem, enquanto eles observam o movimento da rua, uma moça muito bonita se aproxima dos dois, e logo lhes desperta a atenção. O mecânico então comenta com Besouro sobre a beleza da moça que se aproxima, e este já bastante misturado das idéias devido às doses de cachaça, resolve fazer uma graça que segundo ele chamaria a atenção da moça para si, e então fala para o mecânico:
-Olha, tu vai ver, eu vou falar aqui uma vantagem, que quando ela for passando eu aposto que ela vai olhar pra mim.
A moça vai se aproximando mais um pouco e antes de passar completamente pelos dois Besouro, que morava bem próximo dali, descarrega seu galanteio infalível em voz alta se dirigindo ao mecânico.
-Ei macho, tu vai lá em casa e entra no meu quarto, num tem aquele guarda roupa bonito? Tu aperta no botão, quando a porta se abrir tu traz o meu pacote de fumo.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

BICHO DOS OI DE FOGO


Os primeiros automóveis surgidos no Brasil circulavam certamente pelas grandes cidades, só indo depois de algum tempo se espalharem pelas zonas rurais, quando nessas foram surgindo estradas mais propicias à circulação desses veículos. Assim sendo, quanto maior fosse o isolamento de um morador do campo e quanto mais distante ficasse das cidades grandes, maior seria a demora em ter contato com essas máquinas que muitas vezes foram confundidas com monstros ou Demônios. A história que vem a seguir serve bem para ilustrar essa situação e demonstrar a cara de espanto de um homem simples diante da novidade que era para si o contato com um automóvel.
Certa noite de lua um caçador munido de sua espingardada velha, e seu cachorro magricela, mas eficiente, saem em mais uma das investidas aventurosas do sertão, ou seja, uma caçada de peba, que na verdade é uma caçada de tudo, pois, tudo que passar pela mira da espingarda ou pelo faro do cachorro, e que possa servir de um assado, corre grande perigo, ou de levar uma saraivada de chumbos disparados pela socadeira ou de ser agarrado pelas dentadas do cão.
Nesta noite o mar parecia não estar para peixe, ou melhor o mato não estava para caça. Tendo já o caçador percorrido longas distancia sem sucesso algum, se encontrava já cansado e desorientado pelos assobios da caipora que atordoa aos caçadores que não lhe dão fumo em troca de boas caçadas.
Perdidos no meio da mata, caçador e cão rodam horas e já quase madrugada conseguem atinar para um rumo que os levaria a uma estrada, bem longe de sua casa é verdade, mas na qual poderiam finalmente se encontrar, pois lembra o caçador que por aquelas bandas morava um compadre seu.
Mal sai do mato alcançando a estrada ainda meio aturdido, um automóvel com os faróis acesos lhe sega as vistas fazendo-o cair no chão. O automóvel que passava pela estrada segue seu caminho sem parar e o pobre caçador acreditando se tratar de um monstro enviado pela caipora e que o mesmo fugira o vê-lo apossado da velha espingarda e acompanhado do seu cão, se enche de coragem e passa a seguir o carro correndo atrás deste engolindo fumaça e comendo poeira.
Tamanha foi a carreira de nosso herói e de seu cão que ainda conseguem acompanhar ao carro por bom espaço de tempo, porém sem sucesso, pois a cada disparo da velha espingarda a mesma batia catolé e nunca o alvo era atingido. Tanto correram que cansados já não conseguiam manter o ritmo dos passos inicias, mas a distancia percorrida já os fizera chegar bem próximo da casa do compadre, para onde resolve se encaminhar para descansar e contar o acontecido.
Chegando na casa do compadre, encontra este já acordado, iniciando os trabalhos do dia, que no sertão se iniciam ainda com escuro, o mesmo que vira o automóvel passar e já estava acostumado a vê-lo, uma vez que naquela estrada já começavam a circular veículos rumo as feiras de cidades da região vem atendê-lo. É quando o caçador sem deixar espaço para qualquer manifestação do compadre dispara o brado assustado:
-Compadre você viu aquele bicho dos oi de fogo.
O compadre rindo responde:
Mas que bicho dos oi de fogo nada compadre, aquilo era um automóvel.
O caçador sem fazer a menor idéia do que se tratava um automóvel e sem entender aquela palavra que para ele era nova, bastante zangado com os risos do seu compadre devolve injuriado:
- oitos e noves que nada compadre. Aquilo era um bicho dos oi de fogo.